Sábado contará ainda com a realização de debates sobre o poder da imagem, questões relacionadas à preservação e sessões especiais, além da exibição de “Pitanga”, no Cine BNDES na Praça

O sábado começa movimentando em Ouro Preto, com a realização do tradicional Cortejo da Arte, que integra a programação da CineOP. A partir das 11h30, diversos grupos artísticos de Belo Horizonte e Ouro Preto se encontrarão na Praça Tiradentes e seguirão rumo ao cinema, em um contagiante passeio. Entre os grupos e artistas convidados para a mistura de ritmos e sonoridades estão a Banda Senhor Bom Jesus das Flores, o Bloco Charanga de Lata, o Bloco Zé Pereira do Clube dos Lacaicos,a Cia.Estandarte, a Fanfarra da Escola Estadual Desembargador Horácio Andrade, a Guarda de Congo Nossa Senhora do Rosário,as Pastorinhas e a Folia de Reis do “Padre Faria”, com a animação dos personagens da Turma do Pipoca.

 Ainda neste sábado, dia 24, a CineOP tem como destaques o debate “Podem as imagens matar/salvar?”, no qual Amaranta César (professora da UFRB), Arissana Pataxó (artista plástica e professora indígena) e Ernesto de Carvalho (antropólogo) discutem como os registros de imagens afetam a realidade. Será no auditório 2 do Centro de Convenções, às 14h30. No mesmo horário, no auditório 1, o debate da preservação “Documentos correlatos e valorização de coleções” conta com especialistas na guarda de arquivos para discutirem as condições, necessidades e as idiossincrasias do trabalho.

 Na tarde e noite de sexta-feira, o destaque fica para a sessão de curtas indígenas, às 20h, no Cine Vila Rica, com quatro títulos. Pouco antes, às 18h45, na mesma sala, a Mostra Histórica apresenta três curtas, incluindo “A Entrevista”, de Helena Solberg, um clássico do formato.

 No Cine BNDES na Praça, às 20h30, é a vez do documentário “Pitanga”, de Camila Pitanga e Beto Brant e com a presença do personagem-título, o ator Antônio Pitanga. A noite de filmes termina às 22h, no Cine Vila Rica, com outro documentário de perfil, “Rosemberg – Cinema, Colagem e Afetos”, de Cavi Borges e Christian Caselli.

 Já o domingo começa logo cedo, às 9h30, com dois encontros simultâneos no Seminário. No auditório 1, “A experiência latino-americana na preservação audiovisual” reúne Andrés Levinson (preservador audiovisual do Museo Del Cine de Buenos Aires, Argentina), Carlos Ovando (encarregado da unidade técnica de restauração fílmica da Cinemateca do Chile) e Tzutzumatzin Soto (chefe do Departamento de Acervo Videográfico e Iconográfico da Cineteca Nacional do México) para discutirem o que vêm sendo feito por outros países da América Latina em termos de preservação digital e estratégias de acesso.

 No auditório 2, a mesa “Cinema e educação: quais os avanços?” conta com Cezar Migliorin professor da UFF), Cristina Miranda, professora de Artes Visuais do CAp-UFRJ, Inês Teixeira, professora da FAE/UFMG e integrante da Rede Kino, e Maria Angélica Santos, coordenadora adjunta do Programa de Alfabetização Audiovisual da Cinemateca Capitólio (RS).

 Às 11h, o ator Antônio Pitanga participa de uma roda de conversa com o público da mostra, no Centro de Convenções. Ele vai falar sobre sua carreira, os filmes que fez e o documentário “Pitanga”, que foi exibido na programação da CineOP. No mesmo local, às 12h30, acontecem os lançamentos de livros, com diversas publicações.

 Na parte da tarde, às 15h, outras duas mesas. No auditório 1, “O passado e o presente: uma perspectiva histórica do olhar” tem Hernani Heffner (curador adjunto da Cinemateca do MAM), João Luiz Vieira (professor da UFF) e Luís Alberto Rocha Melo (professor da UFJF) para falarem sobre imagens do passado carregadas de valores, costumes e perspectivas particulares que ganham peso diferente e são ressignificados a partir da experiência do presente. No auditório 2, “A educação em tempo de produção de imagens ameríndias” será um bate-papo com Ricardo Leher, reitor da UFRJ, com mediação de Adriana Fresquet (curadora da Temática Educação), sobre o desenvolvimento de políticas afirmativas, de sistemas educativos e a multiplicação de iniciativas de produção audiovisual dos povos ameríndios.

 As sessões de filmes começam às 18h, com a exibição de “A Primeira Missa ou Tristes Tropeços, Enganos e Urucum”, de Ana Carolina, no Cine Vila Rica. Logo em seguida, às 20h, na Mostra Preservação, a comédia “É um caso de polícia!”, de Carla Civelli, produzida em 1959. Fechando a noite na sala, às 22h, a Mostra Contemporânea de Curtas apresenta quatro títulos. No Cine BNDES na Praça, às 20h30, também tem sessão de curtas contemporâneos.

 Representação e preservação

Ao longo de sexta-feira, dia 23, a temática geral da CineOP “Quem conta a história no cinema brasileiro?” tomou conta das várias mesas de debate realizadas durante todo o dia. Reunindo os três homenageados da mostra, a mesa-título contou com fortes depoimentos da montadora Cristina Amaral e da cineasta Para Yxapy sobre representação e representatividade, em especial na relação com as chamadas “minorias” (aqueles que são privados dos privilégios das classes mais bem favorecidas e defendidas na sociedade).

 Cristina chamou atenção ao fato de “Serras da Desordem” (2006), filme emblemático sobre os indígenas no Brasil, ter sido realizado por um homem branco de origem europeia. “O que provocou impacto foi que o Andrea (Tonacci) olhou o Carapiru como um igual, como um homem de quem ele tocou o coração”, disse ela. Yxapy, por sua vez, comentou do desinteresse do público em assistir a filmes que trabalham a temática do indígena. “Esses filmes acabam sendo invisibilizados”, lamentou.

 O cineasta e antropólogo Pedro Portella Macedo relativizou a preocupação de se legitimar a produção indígena pelas vias do olhar do homem branco. “É preciso tomar cuidado com aquilo que definimos como arte”, disse. Ele contou que, na sua experiência, por muito tempo sentiu que líderes indígenas temiam a câmera. “Hoje eles veem o audiovisual como estratégico em suas lutas, como forma de resistência de suas tradições”.

 Na mesa “Imagens do Pensamento Selvagem”, que de certa forma deu continuidade ao tema, o cineasta Isael Maxacali frisou a importância do acesso aos meios de produção para a possibilidade de se filmar a própria cultura e suas formas de relação. A professora da UFSB Rosângela de Tugny exaltou o quanto o cinema maxacali não se preocupa em mostrar como eles são ou como se comportam, e sim em expressar uma vivência e um universo de acontecimentos que os cercam.

 Também na sexta-feira foi realizada a primeira mesa sobre o Plano Nacional de Preservação Audiovisual. Apesar da importância do projeto e de todo o empenho da classe em desenvolvê-lo ao longo de uma década, ficou a sensação de desamparo por conta da ausência de representantes do governo federal. “Diante da atual falência de governo, a hora é de responder pela estética, pela guerrilha no uso do documento e das imagens de arquivo”, exaltou Anita Leandro, pesquisadora e diretora do documentário “Retratos de Identificação”. Carlos Roberto de Souza, presidente da ABPA, questionou: “O que podemos fazer quando nada podemos fazer? O que podemos fazer conjuntamente?”.

 Ainda assim, as falas se prontificaram em defender a importância da preservação e principalmente a urgência de que os próprios cineastas assumam a responsabilidade de manterem vivas as suas obras. O Plano continua em discussão para ser levado ao governo e implantado o quanto antes em seus vários pontos. “A existência de um plano como esse demostra a grande maturidade do setor”, disse o pesquisador Ruy Gardnier.