Mais filmes no último dia do evento são “Memórias do Subdesenvolvimento” e “Vinte Anos”, ambos relacionados a Cuba; nos debates, professores discutem formas alternativas de educar através do cinema

Nesta segunda-feira, dia 26, a sessão de encerramento da 12a CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto tem a pré-estreia de “No Intenso Agora”, às 20h30, no Cine Vila Rica. O filme marca a volta de João Moreira Salles ao cinema, depois de quase uma década de seu filme anterior, “Santiago”. Em pré-estreia nacional, o novo documentário de Salles resgata imagens dos anos 1960 feitas em viagens ao exterior e que incluem a revolta estudantil francesa, a invasão da Tchecoslováquia, o enterro dos mortos em 1968 em Paris, Lyon, Praga e Rio de Janeiro e a Grande Revolução Cultural Proletária da China.

Antes disso, o último dia de programação da Mostra conclui a série de temas, estímulos e discussões que pautaram a edição deste ano a partir da temática “Quem conta a história no cinema brasileiro?”. Logo pela manhã, às 10h, dois encontros do Seminário trazem à tona pontos de vista variados sobre isso em diversas perspectivas. No auditório 1, a mesa sobre “Midiativismo” reúne Júnior (Centro de Mídia Independente), Paula Kimo (pesquisadora) para conversarem sobre suas experiências e a importância de se utilizar as novas tecnologias para a expressão das questões e lutas contemporâneas. No auditório 2, André Brasil (professor), Marcela Borela (coordenadora da Rede Kino) e Vincent Carelli (indigenista e cineasta) debatem as “Emergências Ameríndias”.

Às 14h30, no auditório 1, é a vez de conversar sobre “Jogos eletrônicos, mídia arte e cinema expandido”, que coloca na mesa Bruno Vianna (cineasta), Magali Melleu Sehn (professora), Renata Gomes (professora) e Ruy Luduvice (coordenador da Associação Cultural Videobrasil). Eles discutem como lidar com a combinação de conteúdo e dispositivo de acionamentos, códigos de programação e configuração expositiva características de novas formas de linguagem e expressão.

As sessões de cinema começam às 18h, no Cine Vila Rica, com a Mostra Preservação. A exibição de “Memórias do Subdesenvolvimento” resgata a mítica produção cubana de 1968 que se tornou um marco no cinema de resistência. Às 19h, no Cine BNDES na Praça, o documentário “Vinte Anos”, de Alice de Andrade, coloca novamente Cuba em pauta, desta vez num trabalho contemporâneo que olha para o passado da ilha.

Para festejar mais um ano de evento, no Sesc Cine Lounge Show, a última série de apresentações se intitula “Noite Noiz” e será dedicada à chamada “cultura da favela”, trazendo toda a efervescência e diversidade do verdadeiro caldeirão cultural presente nas comunidades periféricas brasileiras, historicamente alijadas dos regimes de visibilidade e lugares de fala. Os ingressos serão distribuídos a partir das 22h.

OUTRAS FORMAS DE EDUCAR

No domingo, o debate “O passado e o presente: uma perspectiva histórica e política do cinema brasileiro” reuniu pesquisadores para conversarem as formas contemporâneas de olhar o audiovisual do passado. O professor João Luiz Vieira (UFF) apresentou dados e cartazes de comédias da Atlântida que revelam a maneira como essas produções se relacionavam com o próprio entorno social. Por sua vez, Luís Alberto Rocha Melo (UFJF) compartilhou a experiência na sala de aula de deixar que seus alunos do curso de cinema definam os temas a serem abordados e, a partir disso, ele levar filmes e textos para gerarem novas discussões.

“Eu estava profundamente entediado com o formato tradicional de contar a história do cinema brasileiro, de ficar diante dos alunos falando de assuntos que eles não mostravam muito interesse”, contou Rocha Melo. Ao inverter o caminho e estimular conversas que levantassem questões a serem expandidas pelas aulas, ele diz ter tido resultados surpreendentes, com assuntos como descentralização da produção e representação da mulher na ficção brasileira. “Eu mesmo preciso ir reinventando meu olhar para essa história”.

Já o encontro “Diálogos Cinema e Educação: Quais os Avanços?” trouxe mais dúvidas sobre a lei 13.006/14, proposta há três anos pelo senador Cristovam Buarque e que obriga a exibição obrigatória de cinema brasileiro nas salas de aula. Ainda indefinida, a lei entrou num hiato com as mudanças de governo e a crise institucional instalada no país. Diversas iniciativas foram apresentadas durante a mesa, quase todas elas em intervalo e sem perspectivas de se resolver – como é o caso do plano desenvolvido pela professora Maria Angélica dos Santos, coordenadora adjunta do Programa de Alfabetização Audiovisual, no Rio Grande do Sul. “Procuramos o governo federal para encaminhar as propostas, mas fomos atingidos pela crise”, revelou.

O professor da UFF Cezar Migliorin apontou o que chama de “fracasso estético” da atual política e da necessidade de se reagir a partir da exaustão. “Não há transformações que não passem por radicais mudanças sensíveis. Precisamos trabalhar com esse momento de exaustão causado pelo Estado. A exaustão pode ser libertária e, para isso, é necessário confrontar”, disse Migliorin.